“Mas por que a gente insiste taaanto na aparência? Por que não olhar pro sorriso da mulher, suas ideias, o que tem a dizer… Nossa imagem não deve ser tão importante assim e acho fútil pensar o contrário” 🤔. Desse jeitinho reto e direto me foi dito numa roda de conversas pra que fui convidada, em um importante órgão público aqui de Brasília 🙈. Suei frio ao perceber que a resposta pronta de que “moda é comunicação e beleza” já não era suficiente pra mim. Desliguei o vídeo desconcertada e, terapia em dia, reconheço que concordava com aquela mulher. Depois de TANTO, alguma parte minha ainda entendia a moda como fútil 😕
É que após séculos definidas como “corpo”, foi preciso ocupar o extremo oposto da balança pra reivindicar a legitimidade de nossas “mentes”. Como repúdio à abjeção de que ainda somos alvo, significamos a aparência + beleza como desimportantes, e é bem duro reconhecer que continua não nos faltando motivos pra isso 🙄. Na reeleição da primeira mulher presidenta do Brasil, não se fez outra coisa senão ridicularizar a roupa que vestia. No escritório em que trabalhei, a aparência era usada como manobra pra rivalizar mulheres. Não existe escapatória ❌. Qualquer mulher, seja trans ou cis, diretoria, gestora, pesquisadora ou política, que ouse se apropriar da autoridade que lhe compete será julgada por sua imagem 😒
Por um lado, como dispositivo de controle dos corpos, a moda serve às estruturas dominantes 👀. Ela segrega, classifica e valida existências em detrimento de outras, socialmente desfavorecidas. Não à toa, todas as narrativas dominantes até então foram criadas por homens: “a visão deles sobre a roupa das mulheres, sobre o que eles acreditavam que era a vontade delas”*. Por outro lado, se existe controle é porque antes há poder, e a questão está justamente no fato de não disfrutarmos o seu gozo. E quanto mais nos recusamos a pensar aparência, estilo e roupa, mais nos afastamos dessa possibilidade; mais reafirmamos a mesma gramática machista, racista e transfóbica que prentendemos combater. Percebem a armadilha?🤯
Por isso, acredito que cuidar do que vestimos e das escolhas sobre nossa imagem é uma forma de resistência ✊🏼. Acessar esse poder é tomar pra si a autonomia sobre o próprio corpo e expressão, sobre as nossas ideias e o que temos a dizer também por meio do estilo. Sobre quem somos ⚡. Nossas roupas são importantes agentes de história e já dizia Chimamanda Adichie que as histórias também “podem ser usadas para dar poder e humanizar”**. E em matéria de “humanidade”, minha gente, não existe nada fútil não.
Agooora sim 😌 consigo afirmar em alto e bom som que A MODA NÃO SUBTRAI A MINHA LUTA, MUITO MENOS O MEU FEMINISMO. ELA MULTIPLICA 🔥
#politica #modasemgenero #liderançafeminina
* livro “Use a moda a seu favor”, Carla Lemos.
*”o perigo da história única”, ted talks maravilhoso com Chimamanda Ngozi Adichie.
*ambas as tirinhas são da Larte e foram retiradas do seu ig.