Não me lembro exatamente de começar a entender meu corpo como um problema. No dia em que me botaram a parte de cima do biquíni? Ou quando levei uma surra porque fiz “tcharaan” saindo do banho. E abri meu roupãozinho bem em frente à TV, que era pra chamar atenção que nem no programa do gugu. Eu tinha 4 anos.
Quando menstruei, minha mãe chorou, chorou. Ela não conseguiu me ajudar com absorvente. Na escola, aliás, o item só andava escondido numa bolsinha ou no cós da calça. Não fôssemos uma turma de muitas mulheres, o silêncio não incomodaria tanto. Havia algo errado, um incômodo, sabe? Eu aos 15 anos.
Descobrir “tardiamente” meus ovários policísticos, mesmo com tantos sintomas, mexeu comigo. De novo e sem nem perceber, guardei o assunto só pra mim, no cós da calça. “E se a médica disser que não tenho nada? Prova cabal da minha preguiça”. Não foi nada gentil, mas, quase nos 30, eu pensei assim.
Por que nos custa tanto abrir espaço para o acolhimento de nós mesmas? Por que evitamos a receita do chá que a moça do pilates indicou? Aquele áudio no zap pra pedir o contato da massagista? A pergunta de como anda a libido da amiga?
Nomear meu desconforto, aliviou um grande peso. Saber que outras se sentem assim, me resgatou de muito silêncio e solidão.
Hoje, e amanhã, e depois, quero ainda pedir ajuda a vocês. Quero me lembrar de que na união de mulheres existe uma força meio inexplicável, que tem dureza pra cravar nossos pés no chão e delicadeza pra soprar de leve no rosto. Essa comunhão nos sustenta, nos cuida.
Obrigada, mulheres. Eu me reconheço em vocês.
#coragempraservulneravel #feminismo #vidareal