Antes da moda virar profissão, sempre achei difícil traduzir em palavras o meu estilo 🤔. No automático da rotina a gente vive e se arruma, mas, quando paramos pra sentir com atenção e trazer nossa aparência pro consciente, falta vocabulário… repertótio até 🙈. E, de novo, mais uma vez, a consultoria tradicional individualiza nossas dores e nos pega pela frustração. Afinal, se existe um mercado inteiro dizendo que o cálculo é tão simples a ponto de existirem apenas 7 resultados possíveis, o problema só pode estar com a gente, não é mesmo?! 😒
Não, mesmo. E eu explico o por quê.
Quase todas as conversas sobre “gente + roupa” giram em torno da “Teoria dos 7 estilos universais”, desenvolvida no final dos anos 80, que classifica as pessoas numa de suas sete definições*. No entanto, ao longo da minha trajetória, aprendi que é preciso desconfiar de respostas simples dadas a questões complexas 👀. Por isso, acredito que uma tese pensada há mais de 40 anos, num mercado e sociedade completamente diferentes – nem internet a gente tinha! – não pode ser tão efetiva assim. Sem contar que somos gente diversa 🌈, feita de desejos e crenças, que todo-santo-dia sente no armário as transformações do mundo lá fora (alô pandemia!) . Definitivamente, 7-é-muito-pouco-pra-fazer-caber-tanto.
Pr’além da questão histórico-temporal, essa coisa de “universal” me dá um ranço danado 🤦🏽♀️. Tenho pra mim que tudo o que se pretende absoluto por demais, como se capaz de abranger tudo e todes, o faz às custas do apagamento de quem ameaça tal verdade porque dela se difere. E isso, definitivamente, não é universal. É sim eurocentrado e racista. É classista e misógino. Opressor.
Feche os olhos e imagine uma pessoa de estilo “urbano”. Sou capaz de apostar que o estereótipo que lhe veio contém uma pessoa branca e magra, vestindo jeans, cores neutras, tecidos pesados, tênis, coturno… uma vibe meio São Paulo, centro urbano. No entanto, numa estética oposta, também existe o “urbano” de quem que vive em Salvador, outra cidade grande (e litorânea, de maioria negra) ✨. Nesse a gente não pensou, né? A teoria dos 7 estilos também não. Já tive cliente com medo de assumir sua elegância, porque não tinha grana pra isso, e a virada só aconteceu após perceber que “refinamento” tem muito mais a ver com acabamento e acessórios, do que com as marcas de luxo do Pinterest 💃🏽. Outra cliente, mulher gorda, nada padrão, entendeu que o sexy integra a sua essência, e que negar isso (como vinha fazendo há anos) era invisibilizar uma parte importante de si ⚡.
No final das contas, o que a “teoria dos 7 estilos” me ensinou é que pra cada pessoa categorizada, uma infinidade de particularidades e existências são ignoradas. Por isso, como profissional da moda e mulher que se veste todos-os-dias, eu escolho o minucioso caminho da singularidade – nada universal 🔥. Bate insegurança e é mais difícil porque não tem argumento de autoridade, nem dá pra se esconder atrás de fórmulas ou categorias fixas. É a gente com a gente mesma – ou com a cliente, no meu caso 😬.
Num próximo post volto pra compartilhar meu jeito de pensar estilo nos atendimentos da consultoria. Chego também com ideias palpáveis pra te ajudar a significar, você mesma, seu própria relação com as roupas 🍃. Até lá, fica o convite de olhar através da janela; limpar do feed o que é gatilho pra se sentir mal, deixando só o que inspira; se conectar com quem performa e pensa diverso… Com quem tem corpo, voz e expressão nada padrão ✊🏽.
Quanto mais aprendo sobre estilo, mais percebo que só sabe de si quem se dispõe a enxergar pr’além do próprio umbigo + conhecer mundo em que habita 🖤.
Estilo não nos reduz, expande. Num fica nessa caixinha não!
* são elas: natural esportivo, tradicional, refinado, romântico, criativo, sexy e dramático urbano.
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